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Do campo à mesa: a jornada da carne de qualidade

15/10/2024 | Blog | 0 comments

A crescente demanda por carne bovina de alta qualidade no Brasil está diretamente ligada à importância de estratégias nutricionais e práticas de manejo aprimoradas. 

Não é novidade que o mercado de carne bovina no Brasil tem passado por mudanças significativas acompanhadas de um cenário extremamente favorável ao consumo. 

Uma das principais observações é que atualmente, além do preço, uma parte crescente dos consumidores está cada vez mais atenta à qualidade da carne. Com isso, se nota uma demanda aquecida por cortes premium, maciez, marmoreio, raças específicas, ntre outras qualidades. 

Junto a isso, o mercado de carne bovina brasileiro tem testemunhado um verdadeiro “boom” na utilização de selos de certificação. Cada vez mais, os consumidores exigem não apenas qualidade no produto, mas também garantias sobre a procedência, segurança e métodos de produção que respeitem normas de sustentabilidade e bem-estar animal. Foi por isso, que essa mudança no comportamento do consumidor impulsionou o crescimento de selos que asseguram essas práticas e agregam valor às carnes comercializadas.

Para a produção de carne de alta qualidade, além da escolha genética e raça dos animais, um outro fator que desponta é a estratégia nutricional dos mesmos. Embora grande parte da nossa produção ainda seja de carne commodity, com grande variabilidade entre os animais e suas carcaças, atender mercados específicos e a demanda crescente por qualidade – como apontado no início deste artigo – exigirá uma maior eficiência nos processos de produção, com padronização e homogeneidade.

Estudos científicos demonstram que diferentes estratégias nutricionais podem alterar características como a composição de gordura, a maciez, o sabor e a suculência da carne, afetando diretamente a aceitação dos consumidores.

Um dos principais aspectos da nutrição que impacta a qualidade da carne é o perfil lipídico. Pesquisas recentes confirmam que a nutrição desempenha um papel crucial na maciez da carne bovina. Os pesquisadores observaram que dietas com alto teor de grãos aumentaram significativamente o marmoreio, um dos principais fatores associados à maciez, devido à maior deposição de gordura intramuscular. Eles concluíram que “a suplementação alimentar adequada no período de terminação dos animais é essencial para otimizar a qualidade sensorial da carne, especialmente em termos de maciez”.

Além disso, a suplementação nutricional pode influenciar a coloração da carne, um fator visual importante na decisão de compra. Ensaios demonstraram que bovinos alimentados com dietas enriquecidas com antioxidantes, como vitamina E, apresentaram carne com coloração mais estável durante o armazenamento, retardando o processo de oxidação e descoloração.

Outro fator crucial é o teor de proteína bruta e de energia na dieta, que afeta diretamente o crescimento e a deposição de massa muscular dos animais. Por essa razão, a utilização de uma dieta balanceada em energia e proteína resulta em melhor eficiência na conversão alimentar e deposição de tecido muscular, o que se traduz em maior rendimento de carcaça e cortes de carne de maior qualidade.

Portanto, fica evidente que a nutrição é um fator determinante no desenvolvimento de uma carne de alta qualidade e a escolha da mesma deve levar em conta o equilíbrio entre o ganho de peso eficiente e a obtenção de características sensoriais valorizadas pelo consumidor, como o marmoreio, a maciez e a coloração atrativa.

Além dessas ponderações acima relacionadas à nutrição, vale destacar que animais mais jovens produzem carnes mais macias, e essa característica diminui à medida que o animal envelhece, devido ao acúmulo de tecido conjuntivo. Com o tempo, a estrutura química do colágeno muscular se altera, tornando-se mais estável e fazendo com que a carne fique mais rígida. 

Portanto, o ideal é trabalhar com animais precoces, que recebam nutrição adequada e tenham um histórico genético favorável para garantir carnes de alta maciez.

Entretanto, todo esse cuidado deve ser mantido até o momento do abate. Mesmo um animal precoce pode produzir carne de baixa qualidade se não houver um manejo pré e pós-abate adequado. O estresse, por exemplo, é um fator que deve ser minimizado durante o transporte e o abate para evitar problemas na qualidade da carne, como o aparecimento de carne PSE (do original em inglês Pale, Soft and Exudative – pálida, mole e exsudativa) ou DFD (do original em inglês dark, firm and dry – escura, firme e seca).

Em resumo, a produção de carne bovina de qualidade é um ciclo complexo, que começa com a escolha genética e o manejo nutricional e se estende até os cuidados no abate e também armazenagem. Quando todos esses passos são seguidos corretamente, o resultado é uma carne de alta qualidade, que atende às exigências do consumidor moderno e respeita o bem-estar animal.

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