Por meio da ILPF, os produtores conseguem diversificar suas atividades no mesmo espaço, reduzir os impactos ambientais negativos, aumentar a produtividade da terra e potencializar a rentabilidade do negócio. 

A intensificação da pecuária brasileira, impulsionada por pastagens mais produtivas, tecnologias inovadoras e sistemas integrados, abre portas para novos cultivos e contribui para o sequestro de carbono. Essa transformação, alinhada com o Plano ABC, impulsiona à sustentabilidade e coloca o Brasil na vanguarda da produção com baixo carbono. 

O Plano ABC é uma política pública composta por um conjunto de ações que visam aumentar o uso de tecnologias agrícolas sustentáveis com alto potencial na mitigação de emissões de GEE (gases do efeito estufa) e no combate ao aquecimento global. 

Nesse contexto, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) surge como um modelo de produção que otimiza o uso da terra, elevando a produtividade, diversificando a produção e gerando produtos de qualidade. Ao integrar diferentes sistemas em uma mesma área, a ILPF oferece diversos benefícios e um dos principais é a redução da pressão sobre a abertura de novas áreas. A otimização da terra já em uso contribui para a preservação ambiental e a mitigação das mudanças climáticas. 

Por curiosidade, uma pesquisa publicada em 2021 na revista científica Royal Society Open Science, de Londres, apontou que a recuperação de 12 milhões de hectares de pastagens brasileiras degradadas resultaria em um acréscimo de 17,7 milhões de bovinos, reduzindo a necessidade de novas terras. E olha que no Brasil as estimativas apontam que já passamos dos 100 milhões de hectares de pastagens com algum tipo de degradação. Recuperar áreas pode elevar a produtividade da pecuária sem colocar em risco as florestas e a biodiversidade.

Uma outra vantagem é a quebra de ciclo de doenças e pragas, pois a diversificação de cultivos e a presença de árvores criam um ambiente mais equilibrado, reduzindo a necessidade de químicos. 

Além disso, podemos citar: a melhoria da fertilidade do solo (visto que a integração de sistemas contribui para a ciclagem de nutrientes e a recuperação da saúde do mesmo) e a redução das emissões de gases de efeito estufa já que a ILPF sequestra carbono e contribui para a mitigação das mudanças climáticas. Uma pesquisa publicada na revista Science em 2018 concluiu que a ILPF pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa da pecuária em até 80%.

ILPF e o bem-estar animal 

Além dos pontos citados acima, a ILPF se relaciona diretamente ao bem-estar animal já que a sombra das árvores e a diversificação da dieta proporcionam melhor conforto aos animais e, consequentemente, os mesmos se tornam mais produtivos, resultando em maior rentabilidade aos pecuaristas. 

Um estudo da Embrapa Agrossilvipastoril em parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte) mostrou que o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) foi extremamente eficiente no ganho de peso de bovinos de corte da raça Nelore.

No caso, quatro sistemas produtivos foram comparados: pecuária exclusiva, integração lavoura-pecuária (ILP), integração pecuária-floresta (IPF) e ILPF completa. No sistema em que a área foi lavoura de soja e milho com braquiária por dois anos, seguida por dois anos de pastagem com Brachiaria brizantha cv. Marandu, com linhas simples de eucalipto a cada 37 metros, resultou em 40 arrobas por hectare no ano, em média. 

O número é 30% superior às 30 arrobas que foram obtidas nos demais sistemas e dez vezes maior do que a média de produção do estado de Mato Grosso, que – na época do estudo – era de 4 arrobas por hectare sendo que a média nacional era de 6 arrobas. 

“Sombra e água fresca”

A presença de árvores nas pastagens proporciona sombra e proteção contra o clima, além de oferecer uma dieta mais rica para os animais, resultando em redução do estresse térmico, aumento de produtividade e melhoria dos índices reprodutivos, como aumento da taxa de prenhez e melhor saúde dos bezerros nascidos.

Uma pesquisa apontou que no verão a temperatura do ar foi reduzida em até 8°C na pastagem arborizada e a incidência de radiação solar global foi 80% menor sob as árvores. Os autores argumentam ainda que, durante dias/noites frias, os renques arbóreos podem funcionar como fonte de calor para os animais protegidos sob as árvores, melhorando o conforto térmico dos mesmos também à noite.

De acordo com um outro estudo, em ambientes compostos por árvores isoladas é possível obter redução de até 2,8°C de temperatura do ar na sombra, ao passo que locais compostos por grupos de árvores isolados são capazes de promover a redução de 0,3°C até 15,7°C de temperatura, principalmente nos horários do dia de maior insolação (10h00 às 14h00). 

ILPF para todos 

A ILPF é um sistema versátil que pode ser adaptado às diferentes realidades dos produtores rurais, independentemente do tamanho da propriedade. A forma e a intensidade da adoção do sistema dependem dos objetivos e da infraestrutura disponível de cada produtor. 

Os últimos dados divulgados pela Rede ILPF apontam que no Brasil já são aproximadamente 17.430.00 hectares com ILPF com destaque para o Mato Grosso do Sul, com 3.169.987 hectares. Este estado se destaca pelo uso do plantio direto na palha, técnica que consiste em reduzir e/ou zerar o revolvimento da terra na implantação de uma cultura agrícola. 

Um outro ponto a ser ressaltado é que o consumidor final se torna cada vez mais interessado pelas histórias dos produtos que consomem. No caso de alimentos que envolvem a criação de animais, a busca é por saber como eles foram criados e até manejados. Assim, a ILPF acaba se tornando um ponto positivo quando nos transportamos para as demandas do final da cadeia. 

Assim, podemos concluir que ao integrar diferentes sistemas produtivos, a ILPF contribui para a segurança alimentar, a preservação ambiental e a mitigação das mudanças climáticas, posicionando o Brasil como referência em produção agropecuária sustentável.

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